Facebook





quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Pouco dinheiro e paixão: a saga das angolanas, queridinhas na Rio 2016

São 24 jogos na história das Olimpíadas. Em 19 deles, o handebol feminino de Angola deixou a quadra derrotado. Empatou outros dois e até o Rio de Janeiro tinha apenas uma vitória, essa contra a Grã-Bretanha, um time que disputou a competição em Londres apenas por ser país-sede. Na Cidade Maravilhosa, contudo, o jogo virou. O patinho feio virou cisne. Com Belinha fazendo um gol atrás do outro e a carismática Teresa Bá fechando tudo debaixo das traves, as angolanas estrearam batendo a Romênia, terceira colocada no último Mundial, e depois triunfaram contra Montenegro, prata nos Jogos de 2012. Diante da Noruega, atual bicampeão olímpico, o time africano conheceu sua primeira derrota, mas ainda sonha com uma vaga inédita nas quartas de final.


Agora, as angolanas, queridinhas da torcida, terão o Brasil pela frente, na sexta-feira, às 9h30, em jogo decisivo para as duas partes na Arena do Futuro. A nítida evolução da modalidade no país, porém, é feita aos trancos e barrancos. Se a goleira gordinha Bá e suas colegas viraram até música no coro dos brasileiros, com direito a "Bá, eu te amo, Bá, eu te amo, meu amor", em Luanda o trabalho da federação nacional é voluntário e as atletas chegam a passar quatro meses do ano sem partidas oficiais. E se o handebol feminino do Brasil recebeu quase R$ 9,5 milhões de patrocínios em 2015 para todos os custos operacionais e conta com um centro de treinamento recém entregue de R$ 13 milhões, todas as seleções femininas de Angola, da base ao profissional, dividem no máximo US$ 500 mil anuais (R$ 1,5 milhão anuais).

- A seleção começa a trabalhar 15 dias antes das competições, por conta de todas as dificuldades. É questão de política esportiva de uma nação. Se tivéssemos toda a estrutura dessas seleções que estão aqui na Olimpíada, provavelmente estaríamos em pé de igualdade com essas equipes. Porque material temos, pessoas com boa vontade temos. A nível federativo, somos voluntários, temos nossos afazeres e damos nossa contribuição. Pegamos um bocado do nosso saber e constituímos a federação - explica Ilídio Candido Manuel.

A dificuldade financeira, inclusive, abalou o grupo na partida contra a Noruega, na quarta-feira. O técnico Filipe Cruz citou que as jogadoras não receberam o valor combinado pelo comitê olímpico angolano e isso teria desestabilizado o time para o confronto perdido por 30 a 20. Ao contrário das outras seleções, nenhuma jogadora de Angola atua nas grandes ligas europeias e todas jogam dentro do próprio país.

mescla de gerações e entrosamento

Um dos segredos do sucesso de Angola está na mescla de gerações e no entrosamento do grupo. A média de idade das 14 meninas que estão no Rio de Janeiro fica em exatos 27 anos. A mais nova é Lili, de 20 anos, e a mais velha é Neyde Barbosa, de 35. Além disso, sete meninas jogam a sua primeira Olimpíada, trazendo sangue novo. Para que a pressão não seja sentida, a outra metade já tem experiência em Jogos Olímpicos e Luisa Kiala, que é bancária e está de férias no Rio de Janeiro jogando, chega ao seu quarto torneio na Rio 2016.

O entrosamento também é fundamental. Do time olímpico, oito jogam no Primeiro de Agosto, time estruturado no país e que paga salários acima da média de um trabalhador angolano normal, fazendo com que as atletas possam apenas se preocupar em jogar handebol e estudar. Outras quatro são do Petro de Luanda, rival direto na briga pelo campeonato nacional que dura apenas dez dias.

- São poucos intercâmbios na Europa. Nosso campeonato nacional tem apenas duas equipes disputando a final sempre. Apesar de ser disputado por seis ou oito equipes.  A verdade é que elas ficam muito tempo de férias. Quase quatro meses. Por isso, procuramos encorajá-las a não deixarem o estudo, que é de importância. O nosso segredo também passa por sermos campeões africanos nos juvenis, no cadete, juniores e profissional masculino. Existe uma sequência de trabalho - conclui Ilídio, lembrando que a chegada do técnico Felipe Luís, que era do time masculino, também mudou a qualidade do grupo.

brasil prega respeito e elas sonham com vitória

Em Londres 2012, Angola e Brasil fizeram jogo disputado no handebol feminino. A seleção venceu por 29 a 26, mas não teve moleza. Quatro anos depois, a capitã Dara não espera facilidade mesmo jogando dentro de casa. Ela diz que é preciso respeitar as angolanas pelo que elas fazem dentro de quadra e que a evolução do esporte no país não vem de hoje.

- Angola vai ser um jogão de bola. Para muita gente, parece ser o patinho feio, mas não é. Já vinha com grande equipe. Em Londres não foi um jogo fácil. Elas tem um potencial físico muito grande e melhoraram muito tecnicamente. Vai ser um bom jogo. Se nosso jogo entrar, vai ser difícil Angola ganhar da gente. Mas vamos entrar com muito respeito e muito pé no chão. É um grande adversário e já mostrou isso nos jogos anteriores - disse Dara.

Apesar da derrota para a Noruega, a primeira na Olimpíada, as angolanas acreditam que é possível surpreender o Brasil dentro de casa e garantir a classificação na próxima rodada. Teresa Bá, a goleira que tomou o coração brasileiro e além de atuar tem comércio em Luanda, frisa que por serem forjadas nas dificuldades, as meninas africanas não desistem nunca e confiam que é possível triunfar.

- Precisaremos entrar concentradas contra o Brasil, viemos de uma derrota e depois de amanhã precisaremos dar tudo. Sabemos que a torcida do Brasil nos apoia mas estará do lado brasileiro - contou a arqueira de Angola.
história olímpica do handebol angolano

Atlanta 1996 - 3 jogos e 3 derrotas
Coreia do Sul - 25 x 19 (D)
Alemanha - 27 x 12 (D)
Noruega - 30 x 18 (D)

Sydney 2000 - 4 jogos e 4 derrotas
Hungria - 42 x 22 (D)
Romênia - 35 x 25 (D)
França - 29 x 27 (D)
Coreia do Sul - 31 x 24 (D)

Atenas 2004 - 4 jogos, 3 derrotas e 1 empate
Espanha - 24 x 24 (E)
Coreia do Sul - 40 x 30 (D)
França 29 x 21 (D)
Dinamarca - 38 x 22 (D)

Pequim 2008 - 5 jogos, 4 derrotas e 1 empata
França - 32 x 21 (D)
Noruega - 31 x 17 (D)
China - 32 x 24 (D)
Romênia - 28 x 23 (D)
Cazaquistão - 24 x 24 (E)

Londres 2012 - 5 jogos, 4 derrotas e 1 vitória
Rússia - 30 x 27 (D)
Croácia - 28 x 23 (D)
Montenegro - 30 x 25 (D)
Brasil - 29 x 26 (D)
Grã-Bretanha - 31 x 25 (V)

Rio 2016 - 3 jogos, 2 vitórias e 1 derrota
Romênia - 23 x 19 (V)
Montenegro - 27 x 25 (V)
Noruega - 30 x 20 (D)

Globo Esporte

2 comentários:

Bom artigo, sobre Angola. Agradeço e me orgulho como angolano. No entanto, vocês omitem as vitórias de Angola em Atlanta, sobre os EUA, em Sidney, sobre a Austrália, em Atenas, sobre a Grécia. Só em Pequim Angola não ganhou nenhum jogo. É incomparável a prestação actual. Melhor de todos tempos, sem dúvida. Mas a Luísa, por exemplo, jogou em Atenas. Não precisava omitir aquelas vitórias para relevar os feitos actuais

Bom artigo, sobre Angola. Agradeço e me orgulho como angolano. No entanto, vocês omitem as vitórias de Angola em Atlanta, sobre os EUA, em Sidney, sobre a Austrália, em Atenas, sobre a Grécia. Só em Pequim Angola não ganhou nenhum jogo. É incomparável a prestação actual. Melhor de todos tempos, sem dúvida. Mas a Luísa, por exemplo, jogou em Atenas. Não precisava omitir aquelas vitórias para relevar os feitos actuais

Postar um comentário

Não fale palavrões,respeite o proximo
Evite demasiados erros de ortografia e digitação.
Não utilize o texto todo em letras maiúsculas.
Releia o seu comentário antes de enviá-lo.

COMPARTILHE

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More