Kaya não teve pressa para sair da água. Ao tocar a borda pela última das três vezes, o cronômetro apontava: 10s52 a mais que a vencedora da primeira (e mais fraca) das seis baterias dos 200m livre da Rio 2016. Quase meia piscina de diferença. A menina magrinha, então, tirou os óculos, espremeu os olhos para avistar o placar e molhou a cabeça. Quando levantou o rosto, estava sorrindo. Era o fim de sua histórica participação olímpica. Kaya Forson, 14 anos, é a primeira nadadora de Gana, país de seus avós. Ficou na 42ª colocação. O tempo de 2m16s02 foi 21 segundos maior que o da americana Katie Ledecky, líder da eliminatória.
Última e extremamente feliz.
O sorriso continuou por toda a área de chão azul que leva os atletas até a zona de entrevistas. Ao virar à esquerda, ela até se surpreendeu. Sorriu para os repórteres. Ombro meio encolhido, segurando uma toalha com um dos braços.
- Foi incrível. Disputar a Olimpíada é uma oportunidade única na minha vida de um atleta. Estou muito feliz de estar aqui - diz.
Kaya nasceu no Canadá, assim como seus pais, mas há dois anos mora na Espanha. Poderia representar o mundo. Os avós maternos são irlandeses e escoceses; os paternos, ganeses. Aos 12 anos, decidiu competir por Gana. Disputou o Mundial e, por ser a melhor nadadora do país, ganhou automaticamente a vaga olímpica.
Nadar, para ela, é tão natural quanto andar. Ou sorrir. Foi praticamente jogada na água pelo pai quando tinha 3 anos de idade. Ele, nesta segunda-feira, estava na arquibancada, tirando fotos. A mãe e a irmã ficaram no Canadá. Zara, de 10 anos, também nada.
- Espero nadar junto com minha irmã em Tóquio 2020. Será incrível.
A pequena Kaya já esteve em Gana duas vezes. Na primeira, era bebê – os pais ficaram quatro meses por lá. Depois, já adolescente, conheceu primos, tios. Na Vila Olímpica, ganhou outra família. Dançou com os ganeses durante a cerimônia de hasteamento da bandeira.
- Adoro a cultura de Gana, eles são muito amáveis. Não tinham nenhuma nadadora, então estão me apoiando muito. Foram como uma família para mim.
Ah, a Vila. Kaya já encontrou um bocado de atleta famoso por lá. Fica atenta para ver se terá a chance de tirar uma foto com...
- Michael Phelps, meu ídolo. Eu já o vi, foi incrível, mas não tirei foto, porque não o vi tão de perto. Isso me inspira muito.
Phelps competiu um pouco depois dela. É a última competição olímpica dele. Não estará em Tóquio 2020. Kaya tem quatro anos para, quem sabe, se tornar uma nadadora competitiva.
Completou os 200m em 2m16s02. Na primeira virada, a diferença já era de um corpo. Na segunda, três corpos. E foi aumentando, aumentando...Matelita Buadromo, das Ilhas Fiji, venceu a bateria (2m05s49). Shivani Shivani, da Índia, bateu logo atrás (2m09s30).
A melhor da eliminatória foi a americana Katie Ledecky, com 1m55s01. Federica Pellergrini, italiana que detém o recorde mundial (1m52s98, de 2009) marcou 1m56s37 no Rio.
Queria, claro, ter feito um tempo melhor. Mas não está preocupada com isso. Na verdade, Kaya nem sabe se a natação será prioridade na sua vida. Ela também luta taekwondo, joga tênis e pratica atletismo na escola.
- Talvez vocês me vejam em outro esporte em outro esporte em Tóquio 2020.
Talvez, Kaya. Sorrindo de novo.
Globo Esporte








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