Quando se viu dentro daquele uniforme, defendendo o Brasil nos Jogos de Moscou 1980, era difícil imaginar que a conta chegaria a nove. As décadas foram passando e lá estava Bernardinho em mais uma edição. Mesmo depois de tanto tempo e de ter vivido algumas delas em situações e funções diferentes, o técnico garante que o sentimento é o mesmo. Ainda estão lá o sentido de grande responsabilidade, a ansiedade, a tensão. Mas a vontade de fazer bem foi potencializada. Por ter ficado com a medalha de prata em Pequim e Londres, e também por querer cumprir o que ele chama de missão dentro de casa. A Olimpíada do Rio será a última para alguns integrantes da seleção. Se será a dele também, já declarou que tudo dependerá do que agosto irá reservar.
Usa a história de Dan Jansen para ilustrar o momento vivido pelo grupo. O representante dos Estados Unidos na patinação de velocidade chegou como favorito aos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary 1988 e Albertville 1992. Em ambos sofreu reveses. No primeiro, recebeu a notícia de que a irmã, com leucemia, havia morrido poucas horas antes de sua prova. Correu e caiu. Dias depois, em outra distância, a cena se repetiu. Quatro anos mais tarde, nova queda. Apesar delas, seguiu trabalhando até brilhar em Lillehammer 1994.
- Ele foi ganhar a única medalha de ouro dele, na última prova, na última Olimpíada que participou. Fez trabalho com um psicólogo. Quem sabe a gente não está se preparando para isso também? É a nossa, de alguns, certamente a última possibilidade e o final de um ciclo para muitos aqui que estão nessa batalha há muito tempo. Está na hora de esse grupo ser premiado pelo trabalho que vem fazendo e pelo voleibol que tem demonstrado em muitos momentos. Eu quero encerrar bem esse ciclo, que foi difícil. De uma certa consistência, mas não onde a gente queria. De chegar a uma final aqui, outra ali. Algumas frustrações que o time tem, apesar de ter feito coisas tão boas e ter falhado. Está na hora de a gente mudar - disse.
A estreia da seleção será neste domingo, às 11h35, no Maracanãzinho. O México não está entre as principais forças, mas Bernardinho quer que o primeiro compromisso seja encarado da mesma forma. A caminhada não vai permitir falta de atenção nem tropeços. A equipe está no Grupo da Morte na primeira fase, que conta com Estados Unidos, Itália e França.
- O time tem que se ambientar o mais rápido possível. Se despir logo desse sentimento de estreia. É a nossa casa, temos que jogar, encarar e adotá-la como nossa casa, trazer o público. Jogar com paixão, com coração, com inteligência e com lucidez para que a gente tenha sempre o público do nosso lado. Para mim não tem México ou Rússia, tem que entrar 100% contra quem quer que seja. É enfrentar com o mesmo respeito. São sete decisões. Então é jogar domingo como se fosse a primeira.
Ao longo desses quatro anos, o treinador diz ter feito o possível para seguir evoluindo. Numa conversa com cada jogador, perguntou o que esperavam dele. As respostas não ficaram longe do que esperava ouvir. Algumas outras coisas que foram ditas o fizeram refletir. Queria entender como funcionava seu grau de cobrança na visão dos comandados.
- A gente tem que ser um projeto em construção sempre. É buscar tirar o melhor de cada um deles, dar o meu melhor para cada um deles. Tenho que estar buscando permanentemente uma solução para que eu possa ser uma ferramenta melhor, para que possam desempenhar melhor o papel deles. Eu achava que o Wallace fosse pedir para eu dar uma segurada às vezes, mas não. Ele disse que esperava que eu o cobrasse. E outros disseram que eu estava deixando eles mais tranquilos, que estavam jogando melhor. Mas é aquela história: achar que vou ficar sentado no banco, ficar frio, então nem vem jogar porque não vai ser assim. A relação requer que você se adeque um pouco. Tenho que segurar a onda um pouco aqui e ali. Trato todos sob os mesmo princípios, mas a essência é a mesma. As pessoas são diferentes. A pressão sobre a Fernanda, por exemplo, era uma e sobre a Fofão era outra. Eu tento, não acerto sempre, mas tento.
Dono de seis medalhas olímpicas (uma de ouro, três de prata e duas de bronze), Bernardinho terá na Rio 2016 uma equipe com oito debutantes na competição. Já fez todos os alertas para que o foco não seja desviado. Para que o grupo não esqueça que o objetivo está a poucos passos de poder ser concluído.
- Tenho usado a expressão leveza responsável. Não é real você chegar ali, encontrar um ídolo, um mito mundial e não se encantar, não tirar uma foto. É bacana viver esse momento, mas isso aqui não é Disney, um baile de carnaval. Estamos aqui em missão. Isso aqui é muita responsabilidade. Os atletas estão conscientes. A maioria pode não ter experiência olímpica, mas são muito maduros e experientes, como Eder e William. Sabemos a dificuldade do voleibol masculino, estamos falando de seis, de oito times. E vai ser uma belíssima competição. Só espero que a gente tenha condições de chegar lá.
Globo Esporte






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